No
inicio dos anos 60, em uma cidadezinha na região Nordeste, existia uma senhora
muito religiosa, caridosa com o próximo, um ser humano maravilhoso, daquelas pessoas que não fazia mal a ninguém.
Toda semana ela escolhia dois dias para ir visitar uma igrejinha que tinha
dentro de uma mata fechada. Esta igreja chamava-se Cruzeiro de Santo Antônio.
Voltando
um pouco para esta cidade, esta senhora era esposa de um comerciante bem
situado na cidade e dono de sítio nos arredores. Ele era um homem muito bruto e
ignorante com sua esposa e filhos.
Então,
tudo que cercava aquela mulher eram coisas desagradáveis, no entanto jamais a
encontrava com a cara feia, podia até encontrá-la chorando, mas entre as
lágrimas ela ainda te olhava e fazia um ar de riso.
Eu
cada dia ficava mais encantada com aquela bondade, nos meus sete anos precoce
fiquei muito curiosa para saber como ela subia a serra para o Cruzeiro rezando
o terço e ajoelhando-se no caminho em cada estação – era o que as pessoas
falavam, até lhe chamavam de beata.
Um
dia eu falei para ela “quando a senhora for para o Cruzeiro me avise que eu vou
com a senhora”, ela ficou muito feliz porque eu me ofereci para ir, pois
ninguém ia com ela. Ela ainda perguntou se minha mãe deixaria e respondi que
sim.
Em
uma sexta-feira ela disse que nós iríamos à tarde, eu fiquei naquela euforia e
curiosidade...
Começamos
a caminhada, antes de entrarmos na mata tinha uma rua que era uma ladeira
enorme e a última casa desta rua era a casa do vigia da mata, e sua esposa viu
quando entramos mata dentro. O tempo começou a mudar ficando nublado. Aqui
acolá ela se ajoelhava e eu também, mesmo sem entender nada só sentia que
aquela criatura era diferente, nos passava confiança e uma paz muito grande. O
caminho era estreito, nos lados o capim era da nossa altura, o chão cheio de
folhas secas, por umas duas vezes as aranhas caranguejeiras passaram por cima
dos meus pés. Chegando à igrejinha o céu estava trancado de chuva, era muito
vento, relâmpagos, trovões e chuva, muita chuva. Eu comecei sentir frio, comecei
a tremer, dentro da capela tinha goteira por quase todos os lugares. A
senhora bondosa tirou o vestido e me enrolou, fiquei mais aquecida e deitei num
banco, olhando para cima vi uma cobra – fiquei tremendo de medo – mostrei à
senhora e ela falou na maior calma que daqui a pouco iríamos embora.
Eu
não tirava os olhos da cobra, mas ela não saia do lugar. Foi então que percebi
era apenas a pele da cobra.
A tarde caía, e cada vez mais ia ficando
escuro dentro da mata, foi aí que ela decidiu que voltaríamos mesmo chovendo.
Eu estava morrendo de medo, entretanto, rezávamos e pedíamos a Deus proteção.
Já estávamos na metade do caminho, quando de repente a nossa frente aparecem
dois homens vestindo capas de chuva pretas, nos assustamos, porém logo
reconhecemos um, era o vigia que tinha vindo a nossa procura, pois sua esposa
havia falado pra ele que nos viu entrar na mata, e não nos viu voltar.
Assim
que os homens se aproximavam da gente ela só se preocupava comigo, mandou que
eu me enrolasse na capa e falou para me levarem no braço, pois eu estava muito
cansada. Chegando à cidade estava todo mundo preocupado, principalmente minha
mãe.
Esta
foi mais uma das minhas aventuras e essa senhora me deu uma grande lição de
amor ao próximo e fé nessa força maior, que é Deus.